terça-feira, 2 de junho de 2009

O rato e o Gato Caolho

"Nunca a
verdade ajuda a sofrer menos". (
Jean Rostand)

O rato surpreende o gato caolho (tudo bem, deveria ser o contrário), e num misto de profunda admiração, receio, medo e desejo de se aproximar diz:

- Oi – deixando seu “oi” deslocado no ar.
- Oi – responde o gato ainda sem entender tal atrevimento.
- Você gosta de livros?
- Sim.
- Hum...
- O que foi com teu olho?
- A vida me feriu.
- Que pena!... – após uns quinze minutos de sepulcral silêncio o rato prossegue:
- Tens uma pelagem bonita, posso passar a mã...
- Não! – o gato recua.
- Desculpe, eu só queria... perdão... tenho te observado, parece tão inteligente, és tão belo e...
- Por favor! - interrompe o gato - deixe de ironias!
- Não são ironias! Por que és assim? Acaso é o que fizeram com teu olho? É a vida? Eu posso ajudar, permita-me te ajudar e fazer com que veja como és belo, e como a vida é bela, eu tenho o remédio...
- Mas ratos trazem doenças!
- É... eu posso ser o remédio e o veneno, diz o rato envergonhado.
Deparado com sua fragilidade, o gato aos poucos e com muita resistência se permite ser ajudado e diz ao rato.
- Obrigado por me ajudar, mas, convenhamos, isso não o torna menos rato – e se vai embora.
O rato também se depara com sua fragilidade e limitação, e ali fica.
Alex S.B de Lima

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