sexta-feira, 31 de julho de 2020

21 de junho IV



Atrasou quase dois meses, mas lá no fundo/aqui no fundo, sem cavar muito, eu sabia que voltaria.
Demorou bastante e eu vivi bem sem ti nesses dias de trégua.
Sabia que voltaria: estalando vento seco, arrastando folhas crépidas no quintal, empoeirando superfícies, deixando pés como de defunto.
Voltou em vento que corta, veio montada no homem da lei esfregando sua riqueza na minha cara.
Eu sabia que voltaria com mala cheia, com bagagem de quem vem para ficar, como sempre fizera a cada vez que o sol se põe laranja e a tarde é de um azul profundo, surdo e lerdo.
É a dor de um corte de folha de papel no dedo. Dói de contorcer e cerrar os dentes, mas é dentro, não sai sangue, não tem hematoma. Os lábios ressecam, a boca cala, os olhos perdem o foco... não há cobertor que chegue.
Pro inferno com seus pássaros! 
Se foram as folhas, os cabelos, o vigor que agora é apenas o sol cadavérico da manhã fria; raio que não chega aqui no fundo.

domingo, 1 de março de 2020

Paroxetina para o picadeiro





Monossílabo. Piada sem graça para rir; rir de desprezo/compaixão/piedade.
É constrangedor e risível/razoável.
Comédia romântica.
Calejou. Criou couraça/pela grossa/áspera/estúpida.
Sob derme, sobre verme.
Escrever liberta.
Sê livre! Não bato mais na tecla/na mesa.
Paroxetina para Pierrot.
Palhaço dentro do Olimpo.
Minha poesia sai no xixi.
Bichinho de estimação, deste se tem mais estima, mais consideração.
Ele tem uma liberdade.
Meu cavaleiro das armas escuras não basta.
Virou piada com a espada sanguenta na mão.
Paroxetina profícua.
Fluoxetina pra palhaço.
Paroxítona morte.
A febre que nunca descansa.
Oxítona que tem fé. Esvazia minha xícara.
A boca abre e o peito fala.
É amanhã, de novo.
Já deveria ter acabado.