quarta-feira, 3 de junho de 2009

Academês que passa.

"Quem vê cara não vê o que só Deus pode ver" (Bp. Zé Bruno)
Era professora universitária respeitada, exercia a profissão havia 13 anos, daquelas que falavam pausada e perfeitamente a nossa língua portuguesa, "macaqueando a sintaxe lusíada" com esmero em cada palavra proferida com os olhos firmes por cima dos óculos que viviam na ponta do nariz. Seu andar nos corredores daquele universo pensante da sociedade era tão firme e decidido que parecia um metrônomo.
Certa manhã recebera a notícia de que viria para a turma onde ela lecionava um acadêmico que vinha transferido da cidade de Pantuana das Cuidas, o rapaz vinha precedido de uma fama sem precedentes (!). Notas excelentes, músico, cronista, poeta, havia ainda quem dissesse que tentou envolver-se com política a fim de lutar pelos direitos do povo de Pantuana, seus professores disseram
que o rapaz era um tanto estranho, mas era educado, escrevera peças
teatrais, era leitor voraz, pregava a igualdade, batalhava por melhorias no sistema de educação, enfim...
De tanta emoção diante do bilhete que estava sobre sua sisuda mesa com as recomendações sobre o rapaz, a professora Mestra ignorou um outro recado que também ali estava e saiu contente, estava próximo a hora de iniciar a aula, já andava rumo à sala de aula, pensando em como usaria este primor de rapaz para quem sabe despertar um certo interesse, um ciuminho que fosse naquele "bando de academicos desleixados" que possuía, como costumeiramente dizia a seus colegas daquela faculdade periférica e caipira.
Durante a aula, enquanto falava de operadores argumentativos e outros bichos que causam dores nos adjuntos abdominais, foi interrompida por leves três batidas na porta, ela com ar de enfado e irritação por ser interrompida abre a porta e logo se desfaz suas feições de megera. Estava diante dela um rapaz polido, bem vestido, de boa aparência, que timidamente perguntou se poderia entrar para assistir aula, mais tímido ficou por ser recebido efuzivamente pela professora que mal saindo da porta mostrou o rapaz para a sala e disse que aquele seria o novo colega, que a classe teria muito o que aprender com ele, e que, a partir daquele momento ele seria seu monitor, auxiliar, que era de alunos como estes que aquela cidade precisava, dedicados, inteligentes, aplicados, fazedores de qualquer trabalho de duas páginas e, em meio a tanta rasgação de seda, a secretária abre a porta, diz a professora que ela não leu outro bilhete que havia sobre sua mesa que dizia que um outro rapaz havia de entrar em sua classe, dois, num só dia. A professora repara que a secretária está acompanhada por um "bicho-grilo", cabeludo, sandálias de couro, barba por fazer, uma camiseta do Jimmy Hendrix com a marca do varal e uma mochila magra, sorridente, ele estende a mão para a professora e diz:
- Prazer, sou seu novo aluno, que veio de Pantuana das Cuidas.
Alex S.B de Lima

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