segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um ícone, um mito, uma lenda viva!

Foto: Alex S. Bambil
(Gustavo Aurélio - parceiro de grandes escritos, lucubrações e macarrão com canela!)

Difaculdade

Ainda há esperança! Era pra ser apenas mais uma noite normal, apenas mais uma aula normal, porém, passei a assistir a aula com a mesma atenuada atenção que extraio um tatu das narinas.
Um ruído irrompe na mórbida aula (...) nem o pobre celular resistiu à dificuldade de faculdade de analisar a vida de poeta. Enquanto isso olho para o quadro verde que a escola me ensinou que é negro e, olhando para a luz falsa das lâmpadas procuro a esperança nos rostos acanêmicos; um andrógeno de beiça gigante, uma gigante, uma com uma guavira na testa, uma esquizofrênica, um duende ninfomaníaco, Abile de Bob e um abominável violonista da escuridão, enquanto meu vizinho se desespera com a tinta de caneta azul que o acompanhou durante boa parte de sua vida de estudante pintando o surrealismo dos sons e das vozes que não estão interessadas em aula alguma.
Numa cadeira, uma gota de tinta azul aguardando zoar alguém... eu matei uma esperança; mas lá fora, ao redor das luzes falsas da praça ainda há esperança, muito além de essa ser apenas mais uma aula comum.
Se não, pelo menos vamos ficar na esperança de uma outra e verdinha esperança entrar voando pelo quadro verde furado na parede, preenchendo a monotonia de mais uma noite perdida, em uma sala acanêmica e caipira.

(Gustavo Aurélio e Alex Sandro Bambil)

Difaculdade II


Minha janela da faculdade dá para a rua, minha dificuldade na faculdade é sair da lua. Mas como? Se a rua tanto mais me atrai? Mais que o interior emparedado branco enquadro negro, o que me puxa é o interior colorido pantaneiro cheio de vida.
Lá fora vejo a tia que mora no interior, a amável tia que nem imagina que está neste texto; texto este que é uma manifestação minha, assim como a água que ferve no interior do milho fazendo-o virar pipoca, a pipoca da tia que me alimenta mais que o corpo, também o espírito quando suas doces palavras, mais que suas pipocas vem nos confortar e fazer-nos refletir que existe muito além desta panela de gente empipocada, nos caminhos de paralelepípedos, que consiste em ser o resumo momentâneo da vida aquidauanense, onde muitos motoristas de tinta estão estacionados. Mas não mais do que quinze minutos para não levar multa, seguindo em frente e levando de carona este momento consagrado para a eternidade em nossa bagagem.

(Gustavo Aurélio e Alex Sandro Bambil)

Fora do ar




Porque eu sou tão desligado as pessoas se irritam.
Eu ando devagar para provocar a chuva a me alcançar
E provoco os céticos exprimidos sob os toldos que têm medo de se molhar.
E dormir é me anular, é fugir, é esquecer, e eu sempre me esqueço,
porque sou desligado demais.
Poetizar e musicar é bálsamo para o cerne da alma;
Eu tento lembrar de não esquecer as chaves, as roupas pela casa,
as meias sem pares, as meias palavras, a alma na sala e o vilão no sofá,
mas eu sou desligado demais.
Eu ando na tempestade sem medo da chuva, mas esbarro no medo dos raios,
porque sou desligado demais.
Prometo quebrar, revolucionar, mas abandono a alma nas canções,
durmo nos acordes,
acordo no silêncio,
foco violões, toco nas neblinas das manhãs, aumento o volume,
ligo o chuveiro, porque sou desligado demais.
às vezes não ligo, só ascendo.
Não que eu não ligue, apenas quero esquecer,
e eu sempre me esqueço,
porque sou desligado demais.


(Alex Sandro Bambil de Lima)

O Poeta e a Lixeira




E é toda vez assim quando eu colho o acúmulo das mágoas,
Da ira, do erro tolo, da lágrima por mim mesmo reprimida com autoritarismo.
Vejo-me quebrando, mas não rompendo este mal...
Trêmulo, choroso, covarde e inconseqüente.
Escurece e meu grito se mistura a esta escuridão.
Minhas mãos frias, machucadas e manchadas com sentimentos dormentes meus.
É sempre assim, preciso ver-me estilhaçando madeira contra árvore
De qualquer maneira e sentir dilacerando esta lágrima gelada
percorrendo o tortuoso caminho do íntimo do coração

até meus olhos parados.
Rasguei a máscara sem pudor como uma frase ébria de blues
no fim de um dia de cão.

Palhaço poeta estúpido.
Coração, oração e implosão!
É sempre assim, eu sei...
É quase inútil acorrentar o heteronômio no calabouço,

deixar versos amassando no bolso; me deixar sentado na beira da estrada,

fugir como bicho e jogar sem compaixão os versos no lixo.


(Alex Sandro Bambil de Lima )