quarta-feira, 26 de junho de 2019

Fuligem



Cinza e fuligem
dos restos
de ontem
Tampa a coragem
Da vida
da fome
Fuligem
voando,
fugindo,
por todos 
os lados,
correndo.
cinzas,
dentro 
da boca,
ouvidos,
renite.
Passado 
que queima
e arde.
Uma mentira
em cima
da outra.
Gritos e ódio
espumam
no canto 
da boca
na bola 
dos olhos
na mão 
de ferro
na boca
do estômago
na cara 
de nojo
na ânsia 
de vômito
no olho 
de gato
na cabeça 
de vento
na raiva surda
Nas meias 
verdades
nas meias 
palavras
no meio 
termo
no meio 
fio
paixão 
meia boca.
Gracejo,
lascivo,
desejo,
indeciso
um balde
de cuspe,
na minha
cara.


asb

21 de junho III



O inverno ainda não tem uma semana.
Muito embora foi um ano de frio que não passa.
Muito embora aconteceu.
Muito embora se doeu.
Há quase cinco anos que me engana
Faz que vai e fica, Morana.

Folhas pastéis
Poeira que estrala sob os pés.
Sequidão de estio
A vida por um frio.
Morana, maldita
Já te vi, escondida

É inverno já no meu nariz.
Veja, Morana, é de novo frio seco.
É domínio de teu reino desencantado.
É desandar contigo pra todo lado.
Mudou de estação e nem se fez cicatriz.
É violão no canto quieto.

Jadis, minha desgraça gelada,
Minha madrugada calada.
Minha neblina de constipação.
Ossos secando no chão.
É inverno de novo, silêncio azulado.
É viver de mentira, verbo não conjugado.

asb