segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Burrocracia


       Meu blog não foi criado pra isso... definitivamente não...

      Entretanto, depois do meu primeiro ano como professor na rede pública, pude antes de mais nada descobrir que eu realmente gosto disso. Gosto sim de dar aulas, gosto de ensinar o valor da educação e do desenvolvimento intelectual, enfim... gosto de ser professor.
       Mas há algo que a faculdade não me ensinou e, durante meu estágio supervisionado, não havia professoras dispostas a me ensinar a obscura e enfadonha arte do preenchimento do diário de classe. Aconteceu comigo e com um outro tanto de academicistas subservientes ou recém formados, que esbarraram no preenchimento de uma burocracia que rouba dos professores um tempo em que se poderia muito bem preparar suas aulas, testes, trabalhos e outros bichos. 
      Além da indisciplina e falta de estrutura em algumas escolas que o professor precisa enfrentar com coragem e determinação, há, no diário de classe uma infinidade de informações e "não pode" que rodeiam seu ritual de preenchimento; vi, professoras com mais de sete anos de profissão refazendo seus diários por causa de alguns pequenos erros... a propósito, vale lembrar que não se pode entregar o diário de classe com rasuras (!).
       Mas que importância há ter um professor que dê uma aula cheia de pobremas desde que ele seja um bom preenchedor de diários de classe? Afinal, os bons preenchedores de burocracia em sua maioria não são e consequentemente não geram cidadãos críticos na sociedade, geram apenas "dominadores de conteúdos" que mais tarde tornam-se massa de manobra, e subservientes à burrocracia que não vão incomodar nem questionar ninguém.
         Em pleno século XXI, não nego que a educação brasileira teve seus avanços sim, mas este sistema de preenchimento de diário de classe ainda é medieval e um atraso de vida ao professor que raras vezes tem tempo de investir em seu próprio conhecimento (falando nisso, espero que não me condenem a beber cicuta). E se preferem bons preenchedores burocráticos a bons professores... bem... então estou no lugar errado. 
Não é desabafo não, é constatação.

AlexSandroBambiL

domingo, 26 de dezembro de 2010

Escrevi só





Só fui ao espelho pra ver de novo
Pra ver essa face de falta de reflexo.
Só recusei os remédios porque os odeio,
Só fiquei ouvindo de novo todas aquelas canções
Pois elas têm vida própria,
Me espiam,
Me maltratam,
Me acalmam.
Eu sofro de expressão alta
Só queria dizer tudo isso que percorre o tortuoso caminho do coração até a ponta da caneta e te ouvir dizendo que é mentira.
Só peguei o violão para ouvi-lo reclamando por toda a varanda
Tenho uma saudade que acorda cedinho, suave.
Sinto meus fragmentos se espalhando...
Só sentei nas escadinhas pra me sentir acompanhado das lembranças.
E quando o sol se esconde atrás da curva, já não penso ou ouço mais nada...
Saudade brota do ar, da chama dos olhos, da terra encharcada...
Só lembro porque ainda vivo
Não posso ignorar o que não está.

AlexSandroBambiL

O troço



O meu violão é um troço
Desajeitado, barulhento.
É uma coisa sem lugar...
Não cabe em nenhum,
Incomoda em todos
Tem um som em MI e de madeira oca
Que só se faz quando tem que se calar a boca.

É um juntador de poeira,
Um fazedor de calos nos dedos
Um provocador de sentidos
Um trovador de teias de aranha
Um fazedor de lágrimas
Um acalentador de medos
Um remédio de se medicar pelos ouvidos

Abrigando canções que só saem pra ti...
Fica pelos cantos empoeirados
Pelos cantos desafinados...
Pelas saudades dedilhadas
Um traço imperfeito
O meu vilão é um troço sem jeito
Destes destroços
Que carrego no peito.


AlexSandroBambiL