quarta-feira, 22 de junho de 2022

21 de junho V






Não amedronta mais, Morana

Teu hálito já é familiar.

Teu cheiro azulado veio cortar.

Já não faz medo, já não faço drama.


Deixa vir a secura desse inverno escuro,

Enquanto a pele se rasga.

Entrei no tom errado, rima rasa.

Inda falta muito julho!


O ar permanece lâmina,

Quarto imóvel sem lâmpada,

Acabou a luz palaciana,

É só in(f)verno que inflama.


Do alto duma flor de ipê, no frio nasceu,

 No cinza da paisagem.

Encanta, tão linda, tão distante, tão de passagem.

Deixou a noite mais fria e morreu.


Fiz nem fogueira, fiz nem calor,

Serve nem pra adorno, 

Arranca logo o que resta de flor,

Mata logo, Morana, o que ainda é morno.


segunda-feira, 4 de abril de 2022

O domador




 Desrespeitável público,

Hoje o grande homem estrume, 

o homem sem memória, 

o incrível desequilibrado!

Hoje alegria não entra!

Hoje o esforço não paga.

O engolidor de choros, 

O contorcionismo para parecer o que não é,

Não é homem, não é seguro, 

é desprezível, é bizarro, é raro,

está sempre na corda bamba!

Desrespeitável público, 

o abominável homem sem peito!

o incrível malabarista sem gravidade!

Senhoras e senhores, 

uma fluoxetina para o palhaço, por caridade!