segunda-feira, 14 de abril de 2025

Pedra de Serrado


Fui mármore— hoje pedra lascada da serra,

teci meu afeto em seda e acordes dedilhados,
e vi teus olhos por outros se acender.

Comparaste-me a estátuas de atleta e aço,
a corpos esculpidos — vaidades rudes —
e o espírito meu, fugidio, sangrou até morrer.

Não vi beleza em espelhos partidos,
mas dei-te os cacos num gesto febril,
colheste espinhos onde pus jardim.

Dos lábios calmos, brotou o silêncio de sepulcro,
sorriste ao herói de músculos e fardas,
e eu — um poeta — tornei-me punhal.

Arde-me o peito, mas o pranto é gelo,
aprendi o escárnio e a sombra dos círios
de tanto implorar ao vazio.

Rocha da Serra de Maracaju, sem cor, sem enlevo,
meu canto de vinagre, meu toque de agosto,
e o que era nobre — jaz dormente e vil.

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