quarta-feira, 16 de abril de 2025

O beijo amigo é a véspera do escarro

 


Sofri sem saber dos segredos sutis,

destes que em lábios, silente, se escondiam.

Enquanto eu dedilhava esperanças febris,
teus olhos em outros abismos ardiam.

Doce o disfarce, denso e decorado,
mentiras de veneno e ventura.
Beijei o caos com afeto sagrado,
mas foste espelho em moldura impura.

Na dança dos dias, negaste-me o passo,
mas valsaste em vontades que eu nunca soube.
E eu, baixo trovador, trançava o laço
selava o silêncio que em ti coube.

Comparado fui – aos vultos vazios,
com quem dividias riso em segredo.
Fui porto fiel em mares sombrios,
foste nau sem leme, conduzida ao degredo.

Mentias com arte, com alma e ardil,
cada "lindo" tinha o peso de um espinho.
Por trás das telas, grito hostil,
e a paixão partilhada em outro caminho.

Agora sei: teu amor era enredo,
e eu mero coadjuvante em cena.
Mas que bela tragédia — viver este medo
de ser sincero, e ainda assim, tua pena.

Nenhum comentário: