Sofri sem saber dos segredos sutis,
destes que em lábios, silente, se escondiam.
Enquanto eu dedilhava esperanças febris,
teus olhos em outros abismos ardiam.
Doce o disfarce, denso e decorado,
mentiras de veneno e ventura.
Beijei o caos com afeto sagrado,
mas foste espelho em moldura impura.
Na dança dos dias, negaste-me o passo,
mas valsaste em vontades que eu nunca soube.
E eu, baixo trovador, trançava o laço
selava o silêncio que em ti coube.
Comparado fui – aos vultos vazios,
com quem dividias riso em segredo.
Fui porto fiel em mares sombrios,
foste nau sem leme, conduzida ao degredo.
Mentias com arte, com alma e ardil,
cada "lindo" tinha o peso de um espinho.
Por trás das telas, grito hostil,
e a paixão partilhada em outro caminho.
Agora sei: teu amor era enredo,
e eu mero coadjuvante em cena.
Mas que bela tragédia — viver este medo
de ser sincero, e ainda assim, tua pena.
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