segunda-feira, 14 de abril de 2025

Elegia da comparação


Fui sombra num campo de aurora,

beijaste lembranças de mortos amores,

e eu, em silêncio, sangrei cada hora.

Ofereci um peito sem grades, sem dores,
mas preferiste retratos antigos,
olhos buscando passados rancores.

Na taça que dei, transbordavam abrigos,
mas cuspiste o vinho por ser tão sereno,
ânsia por mais altos, mais magros e ambíguos.

Foi sem punhal, sem veneno,
gestos que riem de mim—
um amor tão casto, lançado ao obsceno.

Me resta ser náufrago de um mar sem fim,
carrego no peito a cruz 
e no olhar, o luto de quem ama assim.

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