Fui sombra num campo de aurora,
beijaste lembranças de mortos amores,
e eu, em silêncio, sangrei cada hora.
Ofereci um peito sem grades, sem dores,
mas preferiste retratos antigos,
olhos buscando passados rancores.
Na taça que dei, transbordavam abrigos,
mas cuspiste o vinho por ser tão sereno,
ânsia por mais altos, mais magros e ambíguos.
Foi sem punhal, sem veneno,
gestos que riem de mim—
um amor tão casto, lançado ao obsceno.
Me resta ser náufrago de um mar sem fim,
carrego no peito a cruz
e no olhar, o luto de quem ama assim.
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